terça-feira, 10 de setembro de 2013

Governo Obama admite suspender ataque à Síria

Em troca das armas químicas sírias, os EUA podem rever decisão de intervir no país que é comandado por Assad
Londres. O presidente norte-americano Barack Obama abriu ontem uma alternativa para a ação militar contra a Síria, caso o regime de Bashar al Assad entregue

suas armas químicas para a comunidade internacional.

Protestos foram realizados ontem em Washington. Segundo pesquisa de opinião, cerca de 60% da população são contra o ataque FOTO: REUTERS

Segundo ele, a hipótese é algo "potencialmente positivo", que poderá significar um "avanço". A declaração veio após uma sequência inesperada de eventos deflagrada pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, durante visita a Londres.

Kerry afirmou que se Assad entregar suas armas químicas dentro de uma semana à comunidade internacional, os EUA não mais atacarão o país árabe, como vinham prevendo.

A frase saiu em resposta a uma pergunta sobre se haveria alguma possibilidade de os EUA recuarem. Pouco depois, o chanceler russo, 
Sergei Lavrov, declarou então que a Rússia pediria aos sírios que coloquem seu arsenal sob controle internacional. A afirmação foi dada ao lado do ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, que elogiou a declaração russa.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pegou carona e declarou que pode pedir, por meio do Conselho de Segurança, que a Síria transfira seu arsenal de armas químicas para um local onde possa ser guardado e destruído. Em entrevista à CNN, Obama afirmou que vai estudar a proposta, apesar de demonstrar certo ceticismo.

"É possível que tenhamos um avanço, mas terá de ser acompanhado de perto. Não queremos que seja apenas uma tática que alivie a pressão que eles (o regime Assad) sofrem neste momento", declarou.

Antes da entrevista de Obama, a sugestão de Kerry, aparentemente dada de maneira atabalhoada, chegou a ser minimizada. Era só um "argumento de retórica", segundo o Departamento de Estado dos EUA.

Os EUA acusam Assad de terem usado armas químicas para matar civis no mês passado. Segundo relatórios divulgados pelos norte-americanos, pelo menos 1.429 pessoas morreram, sendo 426 crianças, por causa de gás venenoso em poder do governo da Síria.

Votação adiada

A votação prevista para amanhã no Senado dos Estados Unidos sobre a proposta do governo de lançar ataques contra a Síria foi adiada diante do plano russo sobre o arsenal químico sírio, informou o senador democrata Harry Reid. "Não acho que precisemos votar rapidamente", disse o líder da maioria democrata no Senado, poucas horas depois do anúncio da votação.

"Acho que devemos dar ao presidente (Barack Obama) a oportunidade de falar com os 100 senadores e com os 300 milhões de americanos" antes de votar, acrescentou.

A ex-secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, possível candidata democrata em 2016, disse após reunião com Obama, que seria um movimento importante a Síria entregar suas armas químicas, mas advertiu que "não pode haver outra desculpa para atrasar e obstruir a decisão".

Pesquisas divulgadas ontem mostram que a maioria dos norte-americanos não aprova um ataque à Síria. Quase 60% são contrários a uma intervenção.

A Casa Branca disse ontem que mais 14 países assinaram um comunicado condenando a Síria pelo ataque químico e pedindo por uma resposta internacional forte. Com mais esses países, subiu para 25 o total de nações a assinar o comunicado.

Itamaraty tem plano para retirar brasileiros

Brasília.
 O Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, já elaborou um plano de retirada dos 395 brasileiros que vivem na Síria, se o país for alvo de uma intervenção armada liderada pelos Estados Unidos. A saída ocorrerá por terra, e as pessoas serão transportadas para os países vizinhos - Líbano e Jordânia. Mas, por enquanto, não houve solicitações nem pedidos de ajuda.

Segundo diplomatas, a principal estrada que vai de Damasco (Síria) a Beirute (Líbano) está em bom estado. Na Síria, a comunidade brasileira vive em Tartus (225 pessoas) - cidade litorânea e longe dos conflitos -, em Damasco e arredores (141), locais alvo de confrontos, e nas demais localidades do país (29).

No começo do confrontos armados na Síria, em março de 2011, a comunidade de brasileiros no país chegava a 2,5 mil pessoas. A maioria trabalha com comércio ou investimentos.

Assad: EUA devem se ´preparar para tudo´

Damasco.
 O presidente da Síria, Bashar al Assad, avisou ontem que os Estados Unidos, que ameaçam deflagrar uma intervenção armada contra o território sírio, devem se "preparar para tudo", se decidirem pela operação militar. Assad foi claro na entrevista à emissora norte-americana de TV CBS: "(Os EUA) devem se preparar para tudo".

"O governo (sírio)não é o único ator na região. Há diferentes partes, diferentes facções e diferentes ideologias", disse, informando que não exclui o uso de armas químicas "se os rebeldes ou terroristas ou qualquer outro grupo as tiverem". "Não sou vidente, não posso dizer o que vai acontecer", acrescentou.

Para Assad, o Parlamento dos Estados Unidos deve analisar atentamente a proposta de ataque à Síria encaminhada pelo presidente norte-americano, Barack Obama. "O mundo está desiludido com a administração Obama", disse. "Esperávamos que fosse diferente da administração (George W.) Bush (antecessor de Obama)".

Ao comentar sobre a decisão sobre o ataque que será submetida ao Congresso, Assad acrescentou: "Os parlamentares devem questionar-se sobre o que as guerras dão à América". Para ele, a resposta é "nada".

O presidente da Síria reiterou que não existem provas que o ataque químico do dia 21, que matou cerca de 1,4 mil pessoas, foi provocado pelo governo.

Rebeldes

O líder rebelde sírio acusou ontem o regime de Assad e seu aliado russo Vladimir Putin de mentir, depois de Damasco ter saudado a iniciativa de Moscou de colocar sob controle internacional o arsenal químico do país para evitar ataques ocidentais. 

Fonte: Diário do nordeste